segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Desarrumada...

Os joelhos esparramaram-se pelo chão, até ficar sentada, com as pernas cada uma para seu lado, como se estivesse desarrumada no meio da cozinha. Onde é que ele andaria àquelas horas? Lá fora chovia tanto como na divisão, mas o mundo só se desfez dentro de casa. Naquele micro-cosmos de mármore e azulejo, tudo era caos e tortura. Sem saber como nem porquê, as palavras já não se viam por entre as noites que partilhavam. As chaves na porta rodavam sempre da mesma forma, a mesa era posta sempre com a mesma loiça, o que se dizia era sempre o mesmo dito com os mesmos ruídos. A única coisa que ia mudando era a comida que jantavam. A certeza de que seria tudo seria eterno tinha-se tornado demasiado certa. Já não havia luta, nem conquista, porque a rotina fez com que tudo se tornasse quieto. 

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Há prendas e prendas... E a melhor delas todas foi ter passado a meia-noite contigo.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

O meu pai não comprou bolachas com pepitas de chocolate. O que é que é suposto eu oferecer ao Pai Natal quando ele chegar com as prendas?!

domingo, 21 de dezembro de 2008

O último comboio

Há dias em que não podemos asneirar. Independentemente do resto, não podemos pôr o pé na argola, porque o pusemos lá no dia anterior. Que 3 minutos não chegam para ir d'A Brasileira à estação do Rossio e o último comboio parte realmente a horas. O próximo é as 4h30 e eu não tenho tempo de estar ali. A noite é uma criança, mas eu já não, mesmo que não pare de chorar.

E eu só queria voltar para casa, porque não podia ir para o pé de ti...

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Problematizações...

     Há poetas e há sonhos. As histórias de paixões e corações que nunca existiram, ou nunca se souberam encontrar, rebolam no meio do que fica impresso. A polissemia do sentimento é sempre demasiado concreta, que o que se diz raramente é o que se quer dizer. E os versos são apenas frases que esperam tão somente pelo seu ponto final. O excesso de tempo e de espaço em cada palavra escorre pelos livros embaraçados na prateleira. São coordenadas para o sentimento que se quer, mas nunca se consegue, problematizar. 
     Descomplexar. 
     Desconstruir. 
     Desesperar. 
     Desistir.
    Desenvolver aquele ritmo sistematizado de quem não sabe o que há de escrever. Esticam-se as possibilidades, aumentando o tamanho das folhas. Está na hora do banho. As bolhas de sabão estatelam-se nos azulejos da casa de banho. Cerâmica barata dos dias em que chegava aquela meia dúzia de estrofes mal vestidas. Mais dez minutos de revolução, por favor. Engoli o resto de saudade aleatória que se desenhava à minha volta, feita promessa de desgosto e solidão. Nada é estático se só existe caos. A dinâmica do ser define-se pelo movimento da matéria. E amam-se as almas como se desejam os corpos.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Marca Branca em FM! - Na Galiza



É com todo o orgulho e prazer que anuncio que, a partir desta semana, além da Rádio Zero, o Marca Branca passa também a fazer parte da emissão da Rádio Filispim, rádio livre e comunitária de Ferrol na Galiza, em 93.9 FM.

sábado, 13 de dezembro de 2008

Tiago Sousa no Marca Branca

Esta semana, fala-se de netaudio como deve ser. Estabelece-se um diálogo e não um monólogo, como de costume: Tiago Sousa visita o Marca Branca. O fundador da Merzbau, também é músico (contando já com vários registos editados em Creative Commons), e é o primeiro convidado especial do programa. Traz histórias e previsões, perspectivas e opiniões sobre o netaudio em Portugal e no Mundo em quase uma hora de conversa, para quem quiser ouvir.




Marca Branca,domingo às 21 horas, na Rádio Zero.


O Marca Branca é um programa de rádio dedicado exclusivamente ao netaudio. Passa na Rádio Zero domingos às 21 horas e repete na madrugada de 5ª feira às 2.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Desafio

1. Agarrar o livro mais próximo.
2. Abrir na página 161.
3. Procurar a 5ª frase completa.
4. Colocar a frase no blog.
5. Não escolher a melhor frase nem o melhor livro!!! Utilizar mesmo o livro que estiver mais próximo.
6. Passar a 5 pessoas.

Ora, a Inês lançou-me este desafio, mas o livro que tinha mais perto de mim não tinha 161 páginas, tinha 154 (a título de curiosidade era o "Por que escrevo e Outros ensaios" do George Orwell), pelo que peguei no segundo mais próximo. 

"Pendurado no sobretudo, bem na esquadria da porta, Elias procura figurar o major a interrogá-la serenamente, em companhia."
in Balada da Praia dos Cães de José Cardoso Pires


Lanço o desafio à Rita, à Débora, ao Helder, ao Pedro e... à Maria João.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Parabéns

Parabéns a Ele.




Parabéns a Ele.



Que eles fazem anos, mas estão longe. E eu tenho saudades de não lhes conseguir dizer na cara o quanto gosto deles e coiso e tal. Parabéns! Que 20 anos já são muitos anos...



quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Canção #2

"Thats the one, Oi 
How did he not find the baggy, with his hand in my shoe? 
Way too close for me, ah well at least they allowed me through. 
Should be a good night in here, Ramo in the main room, 
People keep pushing me though, no reception on the phone. 
And i'm thinkin'... 
(Lights are blinding my eyes) 
They said they'd be here, they said, they said in the corner, 
And im thinkin'... 
(People pushin' by, then walkin' off into the night) 
These look well speckly, bit green and blue, 
Freeze is well cheap though, so i'll take three if i need to. 
Right im on the plan, i wish the bouncers would go away, 
Borrow water off this man, here goes nothing OK, 
And i'm thinkin'... 
(Lights are blinding my eyes) 
argh Thats proper rank, that tastes like hairspray 
And i'm thinkin'... 
(People pushin' by, then walkin' off into the night) 
I hate coming to the entrance, just to get bars on my phone, 
You have no new messages, so why haven't they phoned? 
Menu, write message, so where are you and Simone? 
Send message, dans number, where've they gone? 
And im thinkin'... 
(the Lights are blinding my eyes) 
Why's the message pending? where the fuck are ya? 
And i'm thinkin'... 
(People pushin' by, there walkin' off into the night) 
Hmm, brandy or beer? Waters a good idea, 
Wish that bar lady'd appear; and come serve over here. 
Where the fuck could they be? still not over in the corner, 
This nights a tragedy, i keep thinking i saw her. 
And i'm thinkin'... 
(Lights are blinding my eyes) 
No thats not them, thats not them either... 
And i'm thinkin'... 
(People pushin' by, then walkin' off into the night) 
I'm still not feeling anything, this has got to be a dud. 
It's been ages since i necked it, and smoked six tabs to the nub. 
Belly's not even tingling, i just feel a bit pissed.. 
No-one looks like minglin', i cant see her or him.. 
And im thinkin'... 
(Lights are blinding my eyes) 
I'm gonna do another i think. Yeah, one more, these are shit. 
And i'm thinkin'... 
(People pushin' by, then walkin' off into the night) 
These toilets are a piss take, queue's bigger than the door. 
Gotta get rid of this pill taste, what are they chattin so much for? 
Glad i'm not a girl in this place, they'll be here til dawn. 
Sure my belly's tingling a bit, summat's happening im sure. 
And im thinkin'... 
(Lights are blinding my eyes) 
Maybe i shouldnt have done the second one, i feel all fidgety and warm... 
(People pushin' by, then walkin' off into the night) 
Whoa, everything in the room is spinning, i think i'm going to fall down, 
My heart's beating too quick, i'm fucking tripping out. 
I wonder whether they got in, turned away no doubt. 
Who cares, this is a tune coming in, that one where hes just like.. 
Im thinkin'... 
(Lights are blinding my eyes) 
My eyes are rolling back, i'm rubbing my thighs with my hand. 
And i'm thinkin'... 
(People pushin' by, then walkin' off into the night) 
Yeah yeah theys' here - can they see my hand in the air? 
Need to wave 'em over here. I Swear Simone's kissing Dan. 
My head's twisted severe, body's rushing everywhere, 
They could have texted me when they were near, but i'm fucked and i don't care.
(Lights are blinding my eyes) 
What was i thinkin' about? Ah who cares, i'm maaaashed. 
(People pushin' by, then walkin' off into the night) 
Totally fucked, cant hardly fuckin' stand. 
This is fuckin amazing; argh... "

The Streets - Blinded by the Lights



Motivação da revisão do Coffee Breakz ao novo álbum do amigo Mike Skinner.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

O que se escreve e o que se quer escrever

Queremos sempre escrever coisas bonitas, quando o intuito é o seu "escarrapachamento" público. Abrimos a janela, e tentamos que nos saia o texto da nossa vida. Assim, como se nada fosse. É óbvio que esperar que isso aconteça é estúpido. Quando escrevemos porque achamos que temos de escrever, dá asneira. Sempre. Não há volta a dar, é uma das leis da vida. Mas pior do que escrever coisas feias, é escrever coisas lindas que nunca teremos a coragem de mostrar a pessoa alguma neste mundo.

Confesso, sou uma piegas. Melosa. Romântica. Mulher. Chata. Basicamente, a maior lamechonas que poderão alguma vez encontrar. Finjo que não, mas é esta a verdade. E para aí 4/5 do que escrevo acaba na pieguice. É bonito, é, mas é demasiado meu. 


Que a única coisa que quero dizer ao mundo é que gosto de ti. Posso?

sábado, 29 de novembro de 2008

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

O que nos mata são as saudades

Sempre.

Que um dia sem alguém que amamos parece uma eternidade. E ninguém substitui outra pessoa. Para quem ainda não reparou, este semestre tem sido uma bela merda. Quase todos os meus amigos estão de Erasmus e os poucos que cá ficaram mal põem o cú na faculdade. Já não há jantares, nem gargalhadas, nem conversas na esplanada sobre tudo e/ou sobre coisa nenhuma. Já não há vontade de ir à faculdade sequer. Porque não está lá pessoa alguma. Não vale a pena, portanto. E este dia dura já há 3 meses (mais que isso, até, se contarmos com as férias do Verão). O pior é que daqui a outros 3 vou eu embora, sem ter tempo de vos sentir ao meu lado de novo. Tenho saudades vossas e do mundo que construíamos a cada dia que passava. Tenho mesmo... Tantas tantas, que nunca caberiam no que sei ou consigo escrever aqui, nem sequer no que vos direi quando voltarem... Talvez apenas caiba nos abraços que vos fiquei a dever, para que voltassem um dia. Ou, se calhar, nem aí, que os meus braços são pequeninos, como eu...


segunda-feira, 24 de novembro de 2008


A fingir que o amor é um conto de fadas, príncipes e princesas que vivem felizes para sempre, mas nunca no mesmo prédio.



sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Canção #1

"Quando te apressas
E me confessas
Que está na hora,
Eu não te digo
Que é um castigo
Ver-te ir embora.

Finjo que a dor
Que sei de cor
Pouco me importa.
Mas, mal me deixas,
Sinto que fechas
Para sempre a porta.

Vem, não te atrases.
O que fazes
Sem mim, a esta hora?
Volta para os meus braços,
Eu já esperei demais.
Vem, não te atrases,
Eu perdoo-te a demora.
Se morares nos meus abraços
E nunca mais me deixares.

Quando tu partes,
Faltam-me as artes
Para te prender.
Mas, se não estás,
Não sou capaz
De adormecer.

Acendo estrelas
Pelas janelas
Da casa fria.
Mas, se não chegas,
Sinto-me às cegas
Até ser dia..."

Carlos do Carmo
(poema de Maria do Rosário Pedreira)

domingo, 16 de novembro de 2008

Parêntesis

O que aqui vai crescendo é da tua responsabilidade. Quando os sonhos deixarem de o ser, vão ficar pendurados no frigorífico, junto aos desenhos dos miúdos. Na lista de compras falta sempre qualquer coisa, mesmo que em casa não falte nada. As viagens ao supermercado são sempre motivo de festa: medem-se os desejos de um e de outro, à espera que batam certo. Pousam-se os sacos no chão, cheios de ternura e vontade, e conta-se o dinheiro que sobrou. Podemos ir jantar fora hoje, é melhor aproveitarmos. (Veste o casaco que está frio. Vá lá, agasalha-te bem, que não quero cá constipações.) O elevador volta vazio, para que só roubemos espaço ao ar. Na rua, a chuva já se calou, mas tu abraças-me para que nem a mais ínfima gota nos separe. (Anda cá, que tenho saudades tuas.) O restaurante é pequeno, feito à medida do nosso bolso. A luz é amarela e pesada, mas aquele calor aproxima-nos do futuro. (Gosto do teu sorriso assim feliz.) Os dedos entrelaçados em cima da mesa, como antigamente, derretem o que ainda me resta de sobriedade. (Quero ficar contigo.) Da doçura que há em ti transbordam recortes e fotografias de momentos que ainda não existiram. Deixas-me escolher a pizza e a sobremesa, correndo riscos desnecessários, e fazes-me acreditar que o amor ainda é possível. Para sempre, como sempre vimos, de olhos fechados, enquanto dormíamos.

sábado, 15 de novembro de 2008

Jamendas? Jamendo!

Esta semana, o Marca Branca faz uma viagem à web 2.0 e mergulha no Jamendo. São 57 minutos de música retirados unicamente da rede social do netaudio por excelência. Do reggae ao industrial, visitam-se vários estilos de música, para mostrar aos demais a riqueza da plataforma. Louva-se a tentativa de querer mostrar 13000 albuns em tão pouco tempo e deixa-se o convite para uma submersão a fundo no Oceano Jamendo.






Marca Branca, domingo às 21 horas, na Rádio Zero.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Das borbulhas e das asneiras - As Crises de Idade

Tenho uma borbulha na orelha direita. Não sei porquê, mas tenho. Irrita-me e dói-me, merda. Odeio borbulhas. Odeio borbulhas por nunca mais me livrar delas e continuar com cara de adolescente de 15 anos "ad eternum". Não que me chateie o facto de parecer ter 15 anos, não. Isso é sinal que estou bem conservada, pelo que, quando tiver 60 anos, a julgar pelo andar da carruagem, aparentarei 24, o que é uma boa média. (Sim, sim, é nesta parte que se roem de inveja.) Mas, convenhamos, as borbulhas são nojentas. Nem todas doem, nem todas são vermelhas e nem todas têm pus. Ainda assim, são nojentas e estragam a parca beleza da minha pessoa. Que eu até nem sou propriamente feia, mas assim torna-se tudo mais difícil, right?

---

Para quem não reparou, também o post anterior (não o do Chrome, o outro antes desse) continha a palavra "Merda". Confesso que quando postei ponderei, efectivamente, sobre a necessidade de colocar a tal bolinha vermelha no canto superior direito deste blog. No entanto, se nos Morangos Com Açúcar podem dizer merda (estou a falar literalmente - eles já usaram a palavra), e de certeza que há muito mais criancinhas a ver aquilo, achei que também estava no meu direito. Na verdade, só me queria sentir crescida. Deve ser da merda das borbulhas, que teima em manter-se intacta na minha cara. (Again? Merda...)

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

[radiozero > Telex] 10 de Novembro: O Avião

Já toda a gente dorme por aqui. Ressonam tranquilamente, na esperança de não sentirem o avião cair. De olhos fechados e cérebro desligado as probabilidades de isso acontecer aumentam exponencialmente, têm razão. Se calhar, devia fazer o mesmo, mas não tenho sono. Não me apetece fingir que isto não está a cair só porque tenho uma miniatura do que se pode chamar medo. Ah! Quero estar acordada quando nos espetarmos! Quando tudo for estilhaços e ruído, eu quero ser a primeira a sentir que a existência acaba ali no caos.

BUM!

Aterrámos, sãos e salvos. Merda!...

domingo, 2 de novembro de 2008

Marca Branca e O Mistério dos Samples Aparecidos

- A verdade é que não sei como é que estes samples vieram aqui parar. Não é suposto: eles não são livres.
- Ora essa! Elementar, meu caro Watson! O que é bom é para ser usado. Louvados sejam os samplers e essa sua mania de esconderem à vista de todos o que lhe é alheio!


Esta semana, o Marca Branca regressa aos miminhos para os ouvintes. Numa sessão quase improvisada, visitam-se pérolas do netaudio recheadas de samples (autorizados, ou talvez não) de obras com todos os direitos reservados. Os Creative Commons foram invadidos por pedaços de Copyright e o resultado é altamente recomendável. Para ouvir com atenção, enquanto se visita o blog.



(Imagem da autoria de eny-one)


Marca Branca, domingos pelas 21 horas na Rádio Zero.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

[radiozero > Telex] 27 de Outubro: 3ª feira

Do carvão, que é mole, resta somente o lápis que o segura. O que está do lado de dentro raramente interessa. Na verdade, nem o que interessa é relevante. As lanternas que segurámos enquanto subíamos as escadas podem ficar esquecidas onde bem entenderes, que nada mudará por já não haver luz no nosso caminho. Ou deverei dizer pilhas? Desculpa, não me lembrei de trazer mais. Nada que não seja normal... No túnel, o pior que pode acontecer é batermos com a cabeça no tijolo. Possivelmente, nem sequer isso, que os cadernos não se escrevem por si só e as canetas não nascem penduradas sobre uma folha de papel.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Parabéns Diana! xD

Tens noção que esta era a única fotografia que tinha tua em que estavas sozinha?! (sim, sim, eu sei que me vais matar, quando voltares a Lisboa... ah ah ah) Oremos, irmãos:

Parabéns a você, nesta data querida
muitas felicidades, muitos anos de vida, 
Hoje é dia de festa, cantam as nossas almas
para a menina DIANA... 
uma salvda de palmas!!!

Adoro-te, mesmo quando me abandonas e vais morar para Barcelona!

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Já não há poetas...

Quando te percebi, só restava a caneca de leite em cima da mesa e o poema do Almada Negreiros que nunca te soube mostrar. O livro tinha ficado perdido algures entre os lençóis e a cabeceira. Enquanto as colunas gritavam uma música qualquer vestida de jazz e cultura, explicavas-me que a poesia era a principal fonte de poluição neste planeta. A poesia não é ecológica! O que se diz em trinta linhas de versos, escreve-se em menos de dez de prosa. E por se querer dizer tanto em tão pouco espaço, não se percebe nada. E bates com os dedos sobre o tampo, um de cada vez, num compasso embalado pela melodia, à espera que te respondesse. Ainda bem que estás sentado, que a vontade de te assombrar as doutrinas não é muita por estes lados. O problema não é a quantidade de papel que fica em branco, mas o desperdício de humanidade que se entranhou nas palavras que se escrevem ou ficam por escrever.

Já não há poetas.

Já não há poetas...

Já não há poetas, meu querido, pelo que os sonhos já não são senão meros recortes de existências paralelas e virtuais. A poesia entrou em coma. Em contrapartida, os poemas amontoam-se pelos jardins e edifícios do urbano, como se fossem parte daquela estrutura de acrílico e betão. Vê se me entendes, que eu não duro mais que uma vida: a poesia está a morrer com uma overdose de poemas. É que a forma não traz consigo a plenitude e o belo, e isso não se vê na caixa, que é de cartão, não é de plástico transparente...

E as instruções não vêm do lado de fora.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

[radiozero > Telex] 20 de Outubro: Mudança

Antes das coisas estão os conceitos. Que é como quem diz que, antes do bolo estar feito, é preciso alguém que saiba ler a receita e cozinhar. Não vale a pena misturarmos açúcar, ovos e farinha se não soubermos em que altura o devemos fazer, e em que quantidades.  Queremos um bolo consistente e não demasiado doce. E cuidado, para que não se queime! A verdade é que tudo se encaixa à nossa volta. Não há movimento aleatório que não transporte  consigo um pedaço demasiado grande de caos. A realidade é um puzzle que tem de ser montado de acordo com a imagem da caixa, senão vão sobrar peças. O que tem piada é saber que as peças vão mudando com os tempos e que o que é perfeito hoje pode não fazer sentido amanhã. Que hoje apetece-me um pastel de nata, e amanhã um bolo de chocolate.


Mudança
s.f., acto ou efeito de mudar, modificação, alteração, desvio, mutação.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Hoje #3

Hoje li que "un 37% de las mujeres dicen sufrir de molestias severas durante la regla", que é como quem diz que "37% das mulheres dizem sentir muitos incómodos durante o período", e achei que qualquer ser humano do sexo feminino que não faça parte desses 37% não merece ser chamado de Mulher. 


segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Hoje #2

Hoje percebi que não escrevo nada de tamanho considerável há já algum tempo. Os parágrafos já não se amontoam no meu caderno. Na verdade, vivem espaçosamente, cada um no seu duplex, que é para não haver confusões - "Esta linha é minha, sim? - Não é nada! Acabaste na anterior!"

Nos entretantos, levantei-me ao meio-dia para ir a uma aula às duas, que não tive por alguma razão obscura (ou talvez nem tanto, porque não li a folhinha que a nobre professora fez o favor de pendurar na porta). Fui jogar à Sueca Italiana (não percebo esta dupla nacionalidade... será que envolveu alguma ménage?) e, quando dei por mim, estava a brincar com um MacBook Pro na Fnac do Chiado. Decididamente, devia fazer alguma coisa de útil na vida...

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

A fingir...

Há uma certa polifonia em ti. Uma frase que ainda não sei ler, toda ela poesia, toda ela qualquer coisa que nunca consegui deslindar. Gostava de poder encostar a cabeça no teu ombro e fingir que está tudo bem, que nunca nos conhecemos, por isso nunca nos amámos. Que tal? A fingir que sempre vivemos de olhos fechados e nunca tropeçámos nos pés um do outro. A fingir que não me ensinaste coisa alguma a não ser existir no escuro, de mãos dadas para que não me perdesse na multidão. Por exemplo. Também podíamos fingir outras coisas que agora não me lembro, mas não interessam para o caso.

Tenho o coração dormente de ser sempre tudo tão desfocado à tua volta.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Escrevo-te

Há sombras que moram nas paredes do meu quarto. Recortes e desenhos imprecisos de coisas que nunca soube. Quando a janela se abre, o frio entra e começo a tossir. É melhor ir buscar uma manta para me tapar. Vou. Nestas noites de gelo e solidão, a companhia dos tecidos reconforta a alma. Mas que alma? Não sei se acredito nisso. Metafísicas decadentes de quem não sabe em que acreditar para além da vida. Fico-me como o outro: "Há metafísica bastante em não pensar em nada". Deixo-me estar sem pensar. Não penso em nada que não apreenda com os sentidos - o que me faz sentir, portanto. O resto é tudo mentira. Não há Deus, não há metafísica, não há alma. Há apenas o Homem: matéria, biologia e sociedade. Isso e a televisão despenteada que nunca pára de gritar, mesmo que seja baixinho. E eu, que estou tão velha, já não tenho paciência para meios de comunicação. Perdão, já não tenho paciência para comunicação - ponto. Tudo se atrofia à minha volta, enquanto abro a mão direita e pego numa caneta. Gostava de te escrever uma carta, mas as palavras estão todas cansadas. Dormentes como eu. Está tudo doente do pó e do barulho e da cidade. Está tudo doente dos prédios que se amontoam neste miserável pedaço de terra. O verde da relva não respira por estas bandas, porque simplesmente não há relva. Nem árvores. Nem flores. Nem ecopontos. A única coisa que se recicla aqui são os sonhos - migalha inexplicável de (in)consciência - que é a dormir que somos felizes.

Escrevo-te para que me leias sempre que quiseres e não apenas quando estás comigo...

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Os Eramus dos Outros

Tenho saudades do Pedro, da Diana, da Martinha, da Peko, da Jales, do e da Cácá. Dos sorrisos e dos abraços de cada um. Das conversas perdidas pelas ruas e casas em Lisboa. Das parvoíces e das resmunguices. De os encontrar na faculdade, a caminho das aulas, e decidirmos que não vamos. Das tolices na Rádio. Dos almoços e dos jantares. Das festas. De Melides com eles. Do que se pode e não se pode escrever, porque há coisas que não sei dizer.

Nunca pensei que o Eramus fosse tão longe...

domingo, 28 de setembro de 2008

Hoje #1

Hoje aprendi que não se deve ouvir a o primeiro andamento da 5ª Sinfonia de Beethoven em dias de ressaca (ou quando se está perto disso) ao acordar e senti-me no filme A Laranja Mecânica enquanto o fazia.

sábado, 27 de setembro de 2008

Poema #3

Ternura e dormência...
Shhh.
Deitada na cama, à espera
que chegue mais um minuto,
segundo,
instante...
Um qualquer pedaço de tempo,
preciso ou impreciso,
que a atire para o fundo
de tudo.

Uma palavra perdida
rebola
pelas escadas abaixo.

Que forma verbal
tão esquecida
daquele verbo irreflectido.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Amarras

Alimenta a criatura, para que ela não te devore. Alimenta-a de nós e de corda, para que fiques bem preso ao navio. Se conseguires, não te afogues quando chegar a altura de mergulhares de cabeça (que eu sei que vais mergulhar, que nunca tens medo de nada).

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Poema #2

O poema que dorme ali
já não quer ser lido.
As palavras crescem
feitas de fado e melodia
à espera que as ouças esta noite.





«Esta noite sonhei oferecer-te o anel de Saturno
e quase ia morrendo com o receio de que ele
não te coubesse no dedo.»
Jorge de Sousa Braga

domingo, 21 de setembro de 2008

Da incoerência de quem escreve

Toda uma imensa necessidade de existência intemporal, que tu nunca apagas o que escreves, nem quando te enganas, nem mesmo quando não gostas do que desenhas sobre as linhas. Riscas por cima do que não queres ali, com traços certos, direitos, padronizados, um compasso de tinta que finge tapar o que supostamente está errado. Com a subtileza de um artista, deixas tudo à vista de quem queira procurar ainda mais por ti naquele pedaço de papel. E esperas. Desesperas por alguém que mergulhe ali, enquanto permaneces imóvel, sentada numa cadeira de madeira, dura e velha, sozinha. É assim, sem qualquer contacto humano que vasculhas universos de código binário e cabos de fibra óptica, e abres a tua janela de voyeurismo. Ali não se arrancam folhas, nem se riscam palavras. E o que escreves dura o tempo que quiseres, como se fosses um qualquer Deus, delineando o espaço e cronologia do que é teu, numa ridícula afirmação pessoal. És patética.

Mas escreve. Escreve para que o teu excesso de existência não tome conta de ti.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Poema #1

Olha e admira.
Existe para lá do que vês
E sonha,
que a eternidade às vezes
não dura para sempre...



São pedaços de sonho o que se empilha à minha volta.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

A praia, a cidade e as músicas

Estive tanto tempo à tua espera, naquela praia. Sentada na areia, deitada na areia e dentro de água. Escrevia com os dedos o teu nome, que ainda não sabia, e atirava-te conchas para que olhasses para mim. Queria mesmo que olhasses para mim, porque me parecias ser a pessoa com quem me ia dar melhor. E dei. De todos, sempre foste aquele com quem tinha mais confiança e brincadeiras. Nada de grandes intimidades, não, que o Verão não serve bem para isso. Mas existia aquela segurança de quem sabe que, se fosse preciso, havias de estar sempre lá, mesmo que o lá fosse aqui, fora da praia. Antes de sermos como deve ser, quase existimos um dia em Lisboa. Um almoço perdido no Chiado, numa qualquer tarde de Dezembro há alguns anos. Tempo chuvoso, sem espaço para tudo aquilo que sempre fora o nosso habitat natural.

Afinal, nem eras diferente do que eu conhecia longe da cidade. Os prédios sujos e a multidão desalinhada do mundo mantinham-nos intactos, como se o frio do Inverno trouxesse o Alentejo para junto de nós. Tão perto e tão longe, como nos habituámos a estar um do outro, por causa daquela canção, que entretanto deixou de ser nossa. Espremeste aquele poema e entregaste-o a outra pessoa. (Não gosto que me troquem os poemas, sabes?...) Mas acabei por tapar os olhos depois de ler: a fingir que não foi nada. Lá no fundo, acabou por não ser. Passou um ano e as músicas mudaram sem que déssemos conta. Não falámos sobre isso, não pensámos sobre isso. A praia estava à espera que existíssemos de novo.

domingo, 14 de setembro de 2008

Parcerias

Hoje, fui consultora cultural do blog do amigo André, The Blogfather, e escrevi a Dica da Semana #33. Basicamente, escrevi sobre álbum e filme que recomendo vivamente. Passem por lá, descubram quais são e tornem-se leitores do blog, sim?

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

A fita laranja

Lembro-me do dia em que te conheci. A fita laranja desbravava os caracóis do teu cabelo e os teus olhos sorriam-me muito para lá do que os outros conseguiam ver. Disseste-me o teu nome e eu não precisei de te dizer o meu. Sem nunca ter falado contigo antes, tu já sabias qual era, tal como toda a gente sabia, disseste-me. Em menos de nada acabámos por ir cada uma para seu lado logo a seguir. Felizmente, aquelas salas quase coladas fizeram-me tropeçar em ti nos intervalos. Uma aula que não existe nem de um lado, nem do outro, da parede e os sonhos começaram a entrelaçar-se. Eu cheguei, tu quiseste ser o meu par e nós ganhámos o jogo. Aliás, ganhámos todos os jogos. Nesse dia, decidi que queria ficar contigo. Sabia, sabia que seríamos imbatíveis, como se estivéssemos eternamente sentadas àquela mesa. O que me deste, a partir desse momento, foi quase tudo o que me tornei. A doçura com que agraciavas os meus dias estacionou na minha existência. E a força com que me agarraste a ti foi sempre aquela que me agarrou ao mundo.

Quando for grande posso ser como tu?

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Faça o favor de entrar

Há dias de ternura e desassossego. São os dias em que as fotografias ficam espalhadas pelo chão da casa, sem ninguém que as apanhe. E os livros, meio abertos, estão perdidos em cima da mesa e da cama. Estou de olhos fechados, mas consigo vê-los através da escuridão. As páginas vão passando, uma a uma, de um lado para o outro, à procura de alguém que tenha a decência de ler o que lá foi escrito. Hoje não me apetece fazer-lhes a vontade. Para lá do silêncio que se instalou por aqui, há um barulho que não me deixa existir acordada. Continuo de olhos fechados, com cuidado, para não tropeçar em nada. Devagar, devagarinho, chego ao pé da janela. Está aberta para que a noite possa entrar como deve ser: de mãos dadas com a lua. - Faça o favor de entrar.

E ela entra despreocupada. Trouxe a lua, o céu e as estrelas. Talvez um pouco mais até, mas ainda não vejo para lá das pálpebras cerradas. Uma mão sobre a minha.

Suspiro.
Abraço.
Beijo.
Sorriso.

Ao longe, consigo ouvir uma onda a rebentar. Consigo ver.

O sol nasceu e deixou-me na praia. Bom dia.

No princípio era o verbo...

Já não existem palavras nesta cidade. As canetas esgotaram-nas. Por isso, não se escreve mais neste lugar. O que ainda se consegue ouvir é apenas o que sobrou dos anos em que nada se dizia. São sons amorfos, meio ocos. Lá ao fundo, alguns ecos ainda ressoam pelas paredes bafientas. Os prédios abandonados não guardam mais que corredores vazios e apagados. Aqui, falamos só por gestos. Os mais afortunados criam novos espaços com as cordas de uma qualquer guitarra perdida e achada no meio da rua. Tocam-na como se tocassem piano, como se o dedilhar tornasse cada corda numa tecla, aproximando-os daquele mundo virtual.

As palavras morreram asfixiadas pela tecnologia. Pelo menos na sua grande maioria. As poucas que conseguiram resistir aos ecrãs e aos teclados acabaram por se suicidar. Os fios e os botões desintegraram a poesia e a voz não serviu para substituir nem sequer uma linha de uma folha de papel. E isso foi o suficiente para que o tempo e o espaço desistissem de passear na escuridão. Não há poesia, não há narrativa. Não se contam histórias quando já nem os sonhos permanecem intactos.

Mas o mundo continua a girar...