quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Da indecência do verbo Amar

Dois pontos. 
Parágrafo. 
Travessão. 

Esquece o travessão. Estou a aprender a amar sem palavras pelo meio. Como se fosse surda, muda e não soubesse ler. Não há verbo, apenas acção. A voz fica esquecida em casa, porque não é preciso ouvir. Os olhos veêm e o coração sente. Há um discurso directo incluído no "nós", sem pausas nem entrelinhas. Vivemos a gramática dos sonhos de mãos dadas e fazemos o mundo acontecer.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Crise

"Crise já não é talvez crise: é a designação dum novo estado de espírito, de nova forma de consciência: a sua popularização vai de par com as de «absurdo», de «negatividade», e de outras tantas noções que, no nosso vocabulário, exprimem situações de aparente impossibilidade."

Adolfo Casais Monteiro


Estou em crise porque sou impossível.

domingo, 25 de janeiro de 2009

À espera...

Estou deitada quase ao teu lado, mas espero por ti, como se o comboio nunca mais chegasse. Há qualquer coisa que me atrofia os sonhos esta manhã. Sou alérgica ao silêncio do ar que fica entre nós. Uma dia digo-te "Até já" e não sei quando volto. Mas, por enquanto, sou eu que fico à espera... De ti e do mundo inteiro que eu acredito que tens para me dar.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009



As memórias são discos rígidos empilhados nas entranhas de cada estante. Desenrolam-se as virtudes em novelos de bondade para guardar dentro do cesto ao pé da lareira. Há aqui uma certa religião do super-ego desarrumado. Os armários de beleza e artificialidade compactadas derreteram debaixo do frigorífico. E os holofotes nunca chegam para iluminar o caos com o respeito devido. Trocam-se os trapos de existência inconformista e recalcada. Não há paraísos aqui dentro, só sonhos que se perderam por auto-estradas em linha recta. Vá lá, pega nos ossos das recordações e desmonta o ouro que deixaste cair sobre o azul. Amanhã, o calendário acaba e o espaço desdobra-se em infinito. Eternidade de dimensões em que o trabalho se torna a única unidade de medida. Universo de electricidade e petróleo: Ele está no meio de nós. A multidão respira de olhos fechados enquanto vê televisão. Não há parágrafos nem alíneas neste contrato, só absoluto.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Hoje #5

As coisas mais importantes não dão para embrulhar.

Posso sonhar contigo e com um pedaço de futuro?

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Canção #3

"Quem me dera ser o fado em tua boca,
Numa entrega repetida em cada verso.
Diz-me o corpo que essa entrega nos é pouca
Porque a vida é uma viagem sem regresso...

Porque a vida é uma viagem sem regresso...

Quem me dera ser o fado que não sou,
Quando quero dizer não ao desalento,
Quando quero estar contigo onde não estou
E descubro que é de ti que me alimento...

Quem me dera ser o fado que procuras,
nas esquinas poeirentas do passado,
P'ra roubarmos ao futuro uma aventura...
Quem me dera, meu amor, ser o teu fado...

Quem me dera, meu amor, ser o teu fado..."

Gil do Carmo - Quem me dera ser o fado

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Ano Novo

Quando me deitei, o ano já tinha mudado. O oito transformou-se num nove e os dois zeros continuaram no meio do número. Já devia saber que a essência do tempo não passa de meros pormenores matemáticos. Não há poesia nem arte dentro de um relógio. Nos ponteiros, fica a urgência de ser eternamente jovem. E eu estou a ficar velha.