sábado, 27 de março de 2010

Saudade...

"Mais do que a ideia,
Gosto de deixar fluir...
Mais do que sentir,
Gosto da palavra,
E a forma como se entrelaça com um sentimento de pertença,
Convidando o tempo para uma dança...
Gosto como a música nos leva para longe sem sair do lugar,
E sentir que se eleva, lá do alto onde os vejo,
Conhecem a distância que nos separa,
E quanto pesa o desejo de voltar, de saudadiar...
Quero tocar onde dizes que dói,
Preciso de descobrir, essa saudade que torce e mói,
Alimenta ou nos destrói..."

Kalaf Ângelo in "Saudade", Macacos do Chinês



sexta-feira, 26 de março de 2010

Imagina um comboio...

Sento-me sempre do lado da janela no barco, mas não é que olhe lá para fora assim tanto quanto isso. Quando não estás, a contemplação traz consigo o terror das lágrimas. Que o mais difícil de suportar na tua ausência é o ter de guardar tudo para mim. Por isso hoje nem fiquei chateada pelo facto de metade das luzes da Ponte 25 de Abril estarem desligadas. Assim ao menos não há a tentação de sorrir, muito embora o sorriso nunca chegue a aparecer efectivamente. Apesar de ter posto o coração em stand-by enquanto espero por ti, a minha vida continuou quase como se nada fosse. Imagina um comboio - uma locomotiva que puxa um vagão, que vem sempre tão lá atrás que nem parece fazer parte do comboio. É aí que vive o meu coração. Dormente. A bater devagarinho... Para ver se nada muda demasiado durante este espaço de tempo em que não me queres ver. Nem mesmo o meu lugar à janela.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Cheiros

Era capaz de jurar que tinha tropeçado em ti quando entrei no metro, só pelo perfume. A quantidade exagerada fez-me rever a ilusão. A verdade é que há sempre qualquer coisa de ti no cheiro que invade Lisboa seja em que dia for. Porque já te cheirei em todas as estações do ano. E agora que o inverno tarda em acabar (já te disse que hoje, apesar da chuva, acordei com os passarinhos a cantar debaixo da minha janela?), apetece-me respirar-te enquanto me perco pela cidade. Quando chegar aquele aroma de verão transpirado, quero cheirar-te de novo.

terça-feira, 2 de março de 2010

Canção #10


«Era tudo quando ela me dizia,
“benvindo a casa”, numa voz bem calma
Acabado de entrar, pensava como reconforta a alma
Nunca tão poucas palavras tiveram tanto significado
E de repente era assim, do nada, como um ser iluminado -
Tudo fazia sentido, respirar fazia sentido,
Andar fazia sentido, todo o pequeno pormenor em pensamento perdido
Era isto que realmente importava,
Não qualquer outro tipo de gratificação
Não o que se ganha,
Não o que dizem de nós não, não, não
Um novo carro, uma boa poupança,
Nem sequer a família, ou a tal aliança - nada…
Apenas duas palavras e um artigo,
Formavam a resposta universal
A minha pedra filosofal
Seguia para dentro do nosso pequeno universo
Um pouco disperso - pronto disponível para ser submerso
Naquele mar de temperatura amena que a minha pequena
Abria para mim, sempre tranquila e serena

Tento ter a força para levar o que é meu
Sei que às vezes vai também um pouco de nós
Devo concordar que às vezes falta-nos a razão
Mas nego que há razões para nos sentirmos tão sós
Vem fazer de conta eu acredito em ti
Estar contigo é estar com o que julgas melhor
Nunca vamos ter o amor a rir para nós
Como queremos nós ter um sorriso maior

"Bem-vindo a casa" dizia quando saia de dentro dela
Bonito paradoxo inventado por aquela dama bela
Em dias que o tempo parou, gravou, dançou,
Não tou capaz de ir atrás, mas vou
Porque sou trapalhão, perdi a chave, nem sei o meu caminho
Nestes dias difusos em que ando sozinho definho
À procura de uma casa nova do caixão até a cova
O percurso é duro em toda a linha, sempre à prova

Tento ter a força para levar o que é meu
Sei que às vezes vai também um pouco de nós
Devo concordar que às vezes falta-nos a razão
Mas nego que há razões para nos sentirmos tão sós
Vem fazer de conta eu acredito em ti
Estar contigo é estar com o que julgas melhor
Nunca vamos ter o amor a rir para nós
Como queremos nós ter um sorriso maior

Por isso escrevo na esperança que ela ouça o meu pedido
De desculpas
De socorro
De abrigo
Não consigo
Ver uma razão para continuar a viver sem a felicidade a meu lar
Na minha casa, doce casa, já ouviram falar?
É o refúgio de uma mulher que deus ousou criar
Com o simples e unico propósito de me abrigar
Não vejo a hora de voltar lá para dentro, faz frio cá fora
Faz tanto frio cá fora que eu já não vejo a hora…

O calor é um alimento que eu preciso
O amor é apenas um constante aviso
Se sabes que eu não vivo dessa forma
Tu sabes que eu não sinto dessa forma

Tento ter a força para levar o que é meu
Sei que às vezes vai também um pouco de nós
Devo concordar que às vezes falta-nos a razão
Mas nego que há razões para nos sentirmos tão sós
Vem fazer de conta eu acredito em ti
Estar contigo é estar com o que julgas melhor
Nunca vamos ter o amor a rir para nós
Como queremos nós ter um sorriso maior...»


Da Weasel - Casa (Vem Fazer de Conta)