terça-feira, 5 de outubro de 2010

Setembro

Setembro costumava ser o mês dos recomeços. As aulas começavam e era encher a mochila de cadernos e canetas novas. Salvo um ou outro ano, os amigos mantinham-se, mas havia sempre algo excitante por saber que era um novo começo. Este ano, pela primeira vez em muitos, não tenho aulas. Não estou a recomeçar, estou mesmo a começar. Trabalhei mais de 9 meses sem receber, mas este mês pode ser que isso mude. Tem mudado. Devagar, devagarinho, vou dando passos de gigante lá fora. Uma rádio, uma revista, uma proposta. Eu a conduzir pelas ruas de Lisboa. Saio de casa de manhã e só chego de noite. Saio de noite e chego de madrugada. Reencontro amigos e moradas. Volto a beber e a perder a vergonha. Conheço novas pessoas, desenho amizades e alargo horizontes. Tenho orgulho no que tenho conseguido, sei que tenho sido grande.

Setembro costumava ser o mês da incerteza e manteve-se assim. Confusões que se tornam novelas e devia ser tudo tão simples.

Tu tomas as tuas decisões, eu tomo as minhas. Não há recomeços, quando ficou 10% do nosso tempo para trás. Mas talvez desse para tentar de novo. Aprender com os erros e fazer melhor. Estudei mais do que em toda a minha vida, mas chumbei redondamente. Quero ir a exame. Agora não, que quero estar sozinho. Não mesmo? Não sei, mas não quero falar sobre isso agora. Amores pendurados em estendais que insistem em não partir - mais valia que se partissem logo. E a banda sonora que me martela os sonhos. O teu sorriso que se esbarronda na minha cabeça. Sim, tenho a certeza que te fiz feliz. Tenho a certeza que fui feliz contigo. Se calhar fui só um erro que durou um pouco mais que o costume. Vamos fingir que nada aconteceu. Já me habituei a não te ter nos meus dias, mas lembro-me que dantes os dias eram mais bonitos por poder partilhá-los contigo. Inspirar. Expirar. Suspirar. Transpirar. Agora que foste embora, só existem verbos cheios de ar – o ar, que não se vê, é perito em preencher vazios. Antigamente, esquecia os velhos amores com novos, mas parece que estou mais crescida. Mamã, quando duas pessoas se amam ficam juntas e vivem felizes para sempre? Hoje em dia, já não existe para sempre, meu filho. Não consigo viver contigo assim, mas não sei viver sem ti. Tenho medo que destrambelhes tudo de novo. Estou "bem" assim, mesmo que seja só a fingir. Tenho a certeza que sentes a minha falta. Amo-te mesmo que não te saiba dizer, mas há dias em que não suporto a tua presença porque me fazes sentir demasiado e ainda está tudo muito fresco. Não te posso dizer que sim, mas não te consigo dizer que não.

Não gosto muito desta novela, posso mudar de canal? O comando está sem pilhas e não temos mais em casa. Lamento, mas vais ter de ficar aqui mais um bocadinho. Vai acabar bem, não vai? Não sei. Mas ainda ninguém morreu de amor.

Em Setembro, ardem os montes, secam-se as fontes.

1 comentário:

Inês disse...

Hoje em dia, ainda existe para sempre, minha Rute. Plo menos, eu quero acreditar.