segunda-feira, 2 de abril de 2012

#8

E foi ali que se apercebeu que só notava que os dias passavam por ver sistematicamente a data nos pontinhos vermelhos do calendário LED do comboio suburbano. Dia 2 de Abril. Dois do quatro de um ano qualquer. Pouco importava. O que importava era que, afinal, até gostava da viagem e do conforto que os 45 minutos de caminho até Lisboa lhe davam. Quando chegava, já estava acordada à séria. Sem ramelas ou vontade de dormir. Não gostava do tempo perdido, mas gostava de pôr o pé na grande cidade sabendo que naquele dia já tinha passado por outra, e que as manhãs começavam sempre numa vila onde tudo sabe a campo.

Também gostava dos barcos, baptizados com nomes de poetas, alinhados no terminal do Barreiro. Fernando Pessoa, Fernando Namora, Antero de Quental, Jorge de Sena, Damião de Góis. Como se a viagem que separa o Sul do Norte pudesse ser um novo poema a cada dia. Como se a Soflusa fosse igual ao Metro de Nova Iorque e patrocinasse as conquistas de cada existência suburbana com um bilhete de ida e volta. 

Fotografia licenciada em Creative Commons por jakub303

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