quarta-feira, 27 de junho de 2012

#12

Poesia é em português, que os sentidos não aprendem o amor noutras línguas. Como se o amor pudesse viver entre letras e sinais de pontuação. Dizemos que o verbo amar é indecente, mas só porque nunca o ouvimos quando queremos. Ou precisamos. Os mais românticos juram a pés juntos que o amor não se diz, sente-se. Mentira. O dicionário das sensações só fica completo quando a voz intervém, mesmo que seja baixinho. Ninguém se importa de ser amado com um sussurro, desde que não queiram fazer disso um segredo. O amor é aquele pormenor em que ninguém repara, mas está sempre ali à frente.

Fotografia licenciada em Creative Commons por Ignacio Sanz

quinta-feira, 14 de junho de 2012

#11

Para trás ficaram as tertúlias de horas tardias e os beijos em sítios onde a intimidade de um amigo não permite. No gira-discos, a poesia brasileira resumia o que restava daquilo que tinham sido. Num compasso certo, entalado entre tempos e contra-tempos, os sonhos desfiavam-se vagarosamente num sambinha de tempos modernos. Os encontros e os desencontros insistiam em sair do armário, da gaveta, da caixa. "O amor é hiper quântico, sim senhora." Nesse dia, sentaram-se à beira-mar, para uma espécie de recapitulação do que se passou nos entretantos: os inícios e os fins, as marés incertas e os barcos que sobreviveram até ali. As garrafas de cerveja alinhavam-se com o pôr-do-sol. Parecia que tudo tinha mudado. (Quero aprender todos os sonhos que tenhas para me ensinar.) Ela sorria por dentro e por fora, num misto de pânico e ilusão: toda a gente sabe que as pessoas nunca mudam. 

Comeram os últimos pedaços de marisco enquanto o lusco-fusco pousou na areia e a banda sonora redesenhou o cenário. Entre as estrelas e o inevitável bafo dos trópicos, o buraco negro da sedução instalou-se. “So tell me you love me only for tonight...” A única coisa certa naquela praia era o rebentar das ondas lá ao fundo. E nem a tirania do calendário conseguia espartilhar os sonhos que renasciam no intervalo de cada suspiro. Nenhum deles sabia se iam começar a manhã embrulhados nos mesmos lençóis ou, sequer, se o pequeno-almoço vinha incluído na viagem. Mas nada disso interessava - aquela madrugada era infinita enquanto eles continuassem a beber. Olhos nos olhos, a promessa estava feita. Encheram os copos com a melhor sangria que o Mar das Caraíbas podia oferecer e brindaram “à sua”. Se o amor saísse dali intacto, não voltaria a ser desperdiçado.

"But the weekend's here started it right 
Even if I only get part of it right 
Live for today, plan for tomorrow 
Party tonight, party tonight 
You got your guards up, I do too. There’s things we might discover 
'Cause you got a path and I do too, we’re perfect for each other"
Drake - The Real Her

Fotografia licenciada em Creative Commons por cell105