quinta-feira, 13 de setembro de 2012

#18

Reciclam-se fórmulas e reinventam-se definições. O que queremos, o que precisamos, o que assumimos. Entre a tranquilidade e o desassossego, o romantismo até pode ter caído em desuso, mas uma declaração de intenções nunca vai deixar de o ser. E, por isso, há sempre a tentação da paixão entalada no compromisso de uma vida levada no plural. Aqui ou lá fora, já não sabemos, que este país não é para velhos nem para novos. Não é para ninguém, mesmo com o Sol e a praia e os sorrisos. Mesmo com o amor. Desfiam-se possíveis futuros e reaprendem-se as classes gramaticais que o limbo faz imperar, advérbios e conjunções: "se", "talvez", "ou". Nunca sabemos nada, a não ser que o amor continua lá, mesmo que as ilusões de outros tempos tenham mudado. O verbo sonhar feito utopia da sociedade que nos viu e fez crescer. Não há dinheiro, mas há montras recheadas de coisas boas que ainda queremos comprar. Ser mulher a tempo inteiro faz doer a carteira, mesmo quando a TPM ainda está longe. Relógios e calendários sobrepostos até ao infinito porque temos de fazer mais, produzir mais, ser mais. No fim do dia, a tirania do capitalismo toma conta dos nossos dias e nem os sentimentos escapam. Ainda assim, o amor é, muito provavelmente, a única coisa que nunca está fora de moda.

Fotografia licenciada em Creative Commons por alykat.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

#17

"O amor não é bricolage, pá."

Como se desse para montar e desmontar, qual móvel do IKEA. É verdade que se constrói. Mas se vamos por esse caminho, também podemos fazer a analogia com a jardinagem. Afinal, o amor também se cultiva, rega, poda, essas coisas todas. Sem verdades absolutas, o amor é tipo a Anatomia de Grey, onde nunca há pares ou camas certas. Ou o novo cartaz de publicidade ao Sumol Limão, que sabe ao que nós quisermos. Por isso é que nunca sabemos defini-lo: depende de nós e dos outros. O sentimento, as declarações e as soluções mudam como as colecções de uma qualquer loja de roupa num centro comercial. Sim ou não. Felicidade ou desgosto. O amor é a dicotomia de cada existência resumida num instante: festa, ressaca, descanso. A sucessão de (quase) tudo o que quisermos ou nos dispusermos passar. Sendo o que preferirmos, vejo-o como um cubo de Rubik. Queremos desesperadamente completar cada lado, mas as 43.252.003.274.489.856.000 possibilidades jogam sempre contra nós e a teoria do caos refastela-se alegremente pelos nossos dias. Por enquanto, é continuar a girar.

Fotografia licenciada em Creative Commons por Toni Blay