quarta-feira, 17 de outubro de 2012

#20

O problema das declarações de amor, ou de qualquer outra intenção, é que às vezes são mesmo verdade. A mania que as pessoas têm de traduzir o que sentem por palavras define grande parte do que somos, nem que seja pela doçura que imprimimos nas frases com que confrontamos o outro lado. É sempre melhor quando a ternura invade o que queremos dizer, mesmo que queiramos definir novas tragédias. No fim do dia, os poemas parecem sempre mais bonitos quando não é a nossa mão que os escreve.


quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Fundamentalismos Cívicos #3

Sobre isto.

São dias tristes. Reestruturar um jornal como o Público devia significar a uma aposta forte em mais conteúdos multimédia, sim (até porque um bom meio de comunicação online não deve viver só do texto com uma fotografia ao lado), mas também em jornalismo de investigação e jornalismo especializado. Reestruturar devia ser sinónimo de melhorar.
Infelizmente, em Portugal, os verbos já quase nunca significam o que é suposto e as "reestruturações" de hoje em dia são, na verdade, devastações industriais onde os senhores do dinheiro ditam os serviços que cada um precisa/gosta/adquire. Eu precisava e gostava do Público como ele sempre foi: impresso. Não o comprava todos os dias, confesso, mas gostava de o fazer sempre que podia e/ou me interessava.
Mais uma vez, um obrigada aos grandes grupos económicos nacionais por nos tirarem o pouco que resta da pluralidade de imprensa e do acesso à informação. E, claro, por utilizarem o seu poder de investimento em destruir as partes boas da nossa sociedade em vez de melhorá-las.
Aos 48 colaboradores do Público a quem calhou o verbo "despejar", espero que um dia deixemos todos de ser um número.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

#19

Na eterna tentativa de fazer com que resulte de novo, parece que os refrões se entalam nas coisas que se ouviram com o calor do momento. Se o arrependimento matasse, se não tivesse dito aquilo, se pudesse voltar atrás. Mais uma vez, a tirania da língua ao serviço do infortúnio que é a insegurança humana no que toca a relações. Dá-me mais um bocadinho de ti, diz ela. Dá-me mais um bocadinho de espaço, diz ele. Nos bocadinhos que se acumulam entre os dois, perdem a razão e os sonhos. Ainda assim, mantêm a insistência no verbo tentar, como se a próxima vez trouxesse a garantia de que aprenderam com os erros. A conversa em loop à espera que o outro não desista define uma espécie de terapia de casal que nunca pensaram em fazer. Frases espaçadas, calmas como a noite que impera às 2 da madrugada de Domingo, para que nada se estrague à conta de ânimos exaltados. Ao menos isso: a ser uma desgraça, que não seja pela força com que se atiram as palavras.