quarta-feira, 21 de novembro de 2012

#22


Capicua - "Casa no Campo" from MPAGDP on Vimeo.

"Diz-me qual é o teu perfume favorito.
- Pão quente, terra molhada e manjerico."

Mergulhar em livros de ficção e de ciência atravessada entre as histórias, enquanto se mudam páginas digitais à velocidade da luz. A tinta é electrónica, mas, muito para lá das palavras, o amor ainda reina em formato analógico. E as frases mais bonitas entopem os servidores da humanidade que é gostar de alguém. Desculpa-me, o desenho dos laços que queremos atar nunca fica perfeito e, volta e meia, desemboca no malfadado "404 Error". Esta vida é uma selva, mas eu preciso de sopas e descanso. Quero uma casa no campo.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Esplendor


Há músicas que sussurram mais alto aquilo que não conseguimos dizer. E adoptamo-las devagarinho numa espécie de busca incessante pela plenitude da comunicação. Os desastres do coração, os laços que atamos e desatamos ao longo dos dias, as expectativas e as promessas quebradas parece tudo largado ao seu expoente máximo quando nos agarramos aos substantivos de outras vozes. O esplendor da chuva que cai lembra os filmes que nunca vimos e as cenas que gostaríamos de protagonizar. Delicadamente, como se a subtil violência das letras alinhadas nos trouxesse novos planos. Grandes planos de cores cintilantes, dignos de um qualquer trabalho publicado no Vímeo. 

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

#21

"De tanto me devotar ao meu ofício, escrevendo e reescrevendo, corrigindo e depurando textos, mimando cada palavra que punha no papel, não me sobravam boas palavras para ela."

in Budapeste, Chico Buarque de Hollanda

O romance que estava a ler não cheirava a bossa-nova. Na verdade, era uma espécie de crónica alargada sobre histórias de amor desafinadas pela falta de polimento. Afinal, os dramas cariocas viviam alinhados com os seus: vivia fascinada com as problemáticas das relações humanas. Obcecada com o amor e com a vontade de ter um par que a acompanhasse nas restantes danças da sua vida. Mas parecia que a sucessão ininterrupta de dias e noites trazia mais complicações que facilidade. Os nós que nunca se desatavam obrigavam-na a investir mais tempo naquilo, como se o tempo significasse qualidade. O trabalho espremia-lhe a vontade e a capacidade de execução de provas de romantismo exacerbado. As declarações fugiam-lhe entre os dedos, esgotadas pelos intermináveis textos que escrevia no horário de expediente. E nem sequer podia entregar-se escondida nos poemas dos outros, que ele não lia versos. Ainda assim, a ironia do destino parecia querer alinhar aquela existência conjunta. Na ausência prolongada que a jornada laboral ditou, ele disse-lhe que pensar em futuros hipotéticos a dois o desconcentrava. "Escreve-me", ouviu-se do outro lado do telefone. Não podia dizer que não. Por isso, foi comprar um dicionário, na esperança de encontrar todos os sinónimos da palavra amor.

Fotografia licenciada em Creative Commons por babi mouton.