quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

#23

Deixou-se levar. Foi a uma daquelas lojas onde noventa desportos se arrumam em (sabe Deus quantos) metros quadrados e escolheu a tenda mais fácil de montar. Uma daquelas que se atiram ao ar e ficam prontas num instante. O plano era simples. Ir ter com ele e acampar ali, ao seu lado. Não queria invadir nada. Na verdade, a tenda serviria apenas os momentos pontuais em que quisessem estar juntos. O amor feito aparelhagem. (Play, pause, play.) Esperar pelo timing certo. O amor feito dj set. Acertar o tempo de cada disco até encaixar. (Pitch para cima, pitch para baixo.) Não que seja importante saber utilizar um crossfader para sobreviver a um acampamento. Até porque nestas histórias costuma resumir-se tudo à figura do príncipe encantado, e toda a gente sabe que a realeza não só não acampa, como (regra geral) percebe muito pouco deste tipo de geringonças. Mas ela não procurava um príncipe. Na verdade, queria ser ela a princesa. De headphones na cabeça, a escolher refrões de depuração requintada, como se as bpms acelerassem o coração em sintonia com as hormonas. Afinal, dizem que o amor é cerebral e (cientificamente) quase uma ilusão. Seria bom poder desenhar um cenário com a banda sonora perfeita. O ideal era mesmo acampar longe dali. Numa casa qualquer, onde houvesse um bom sistema de som. O amor são dois discos. Basta tocá-los à velocidade certa.

Fotografia licenciada em Creative Commons por Marco Wessel.

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